31 de janeiro de 2012

Agir...





“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?”
                                                                                                                            Fernando Pessoa 

Sintra


Sintra é uma vila portuguesa no distrito de Lisboa. Merecidamente, Sintra foi classificada Património Mundial, no âmbito da categoria “Paisagem Cultural”, em 1995.

O seu nome deriva da palavra cynthia, símbolo da lua na mitologia céltica. Os romanos chamavam-lhe Mons Lunae, o monte da lua, e aí eram feitos sacrifícios em sua honra. Essa carga mística, esse estigma com contornos quase sobrenaturais mantém-se até hoje.

Sintra é protegida por uma belíssima paisagem, o apogeu do desenvolvimento dessa paisagem foi atingido com o reinado de D. Fernando II da dinastia Saxe-Cobourg-Gotha (1836-1885). Muito ligado a Sintra e à sua paisagem pelas quais nutria um grande afeto, este rei-artista implantaria aqui o romantismo de uma forma esplêndida e única para as regiões mediterrânicas. O rei adquiriu o Convento da Pena situado sobre uma montanha escarpada e transformou-o num palácio fabuloso e mágico, dando-lhe a dimensão máxima que apenas um romântico de uma grande visão artística e de uma grande sensibilidade estética podia sonhar. Este antecipa, por assim dizer, o célebre Castelo de Neuchwanstein erigido por Luís II da Baviera. Além disso, D. Fernando II rodeou o palácio de um vasto parque romântico plantado com árvores raras e exóticas, decorado com fontes, de cursos de água e de cadeias de lagos, de chalets, capelas, falsas ruínas, e percorrido de caminhos mágicos sem paralelo em nenhum outro lugar. O rei tomou também o cuidado de restaurar as florestas da Serra onde milhares de árvores foram plantadas, principalmente carvalhos e pinheiros mansos indígenas, ciprestes mexicanos, acácias da Austrália, e tantas outras espécies que contribuem perfeitamente para o carácter romântico da Serra.





Percorremos os caminhos da Serra de Sintra envoltos numa neblina característica deste local, onde o místico se enlaça no romantismo.





As árvores, os lagos, as ruínas, os caminhos mágicos que nos cruzamos fomentaram o desejo de continuar a descoberta deste local singular e inesquecível.




No parque, a expressão da estética romântica alia a busca do exotismo ao fascínio pela impetuosidade da natureza. Foi por entre caminhos sinuosos que, por iniciativa de D. Fernando II, se deu início à plantação deste parque que compreende um elenco florístico insólito. Constituem também pontos de referência, nos diversos percursos possíveis através dos trilhos do parque, a Cruz Alta, o Alto de Sto. António, o Alto de Sta. Catarina, a Gruta do Monge, a Fonte dos Passarinhos, a Feteira da Rainha e o Vale dos Lagos. O arvoredo enquadra pavilhões e pequenas edificações que proporcionam viagens no tempo e no espaço, compondo um cenário de inigualável beleza natural, mas também de grande relevância histórica e patrimonial.



Serpenteando por um dos cumes da serra, ergue-se o Castelo dos Mouros, que remonta aos séculos VIII–XIX e é um testemunho do passado de Portugal. Conquistada pelo rei D. Afonso Henriques em 1147 e restaurada por ordem do rei D. Fernando II em 1839, esta estrutura militar colossal manteve-se preservada ao longo do tempo. Observamos as torres austeras, a cisterna original e as extraordinárias ameias do castelo, de onde admirámos maravilhosas vistas panorâmicas sobre a cidade.










Outra atração da Serra é o excêntrico Palácio da Pena, um dos ex-líbris da paisagem de Sintra, é considerado uma das obras-primas arquitetónicas mais originais de Portugal. Faz lembrar um palácio de contos de fadas e exibe uma fusão de estilos Gótico, Manuelino, Mourisco e Indiano. Remonta ao século XIX e está classificado como Património da Humanidade da UNESCO, contendo uma série de torreões exóticos, baluartes e cúpulas de tons pastel, janelas com caixilhos minuciosamente trabalhados e pináculos de cores reluzentes. Mandado construir pelo rei D. Fernando II e pela rainha D. Maria com o propósito de criar um retiro idílico para a realeza, este palácio romântico contém salas de estilo vitoriano, trompe-d’oeils, mobília real e jardins magnificamente cuidados.










Numa das suas janelas podemos encontrar uma figura de um ser híbrido, meio-peixe, meio-homem, saindo de uma concha com a cabeça coberta por cabelos que se transformam num tronco de videira cujos ramos são sustentados pela enigmática personagem, transformado aqui num ser monstruoso de carácter quase demoníaco. Este conjunto, conhecido por "pórtico do Tritão", foi projetado pelo próprio D. Fernando, que o desenhou como um "Pórtico allegórico da creação do mundo", e parece condensar, em termos simbólicos, a "teoria dos quatro elementos".




Atravessando a serra de Sintra em direção a Colares, surge a seta que indica o caminho até ao Convento dos Capuchos, escondido no meio da natureza, um dos raros locais na serra onde estão preservadas espécies autóctones. Idealizado por D. João de Castro, IV Vice-Rei da Índia e proprietário dos terrenos onde o convento se encontra, foi o seu filho, Dom Álvaro de Castro que, em 1560, levou a cabo o projeto do pai, com a ajuda dos frades. Forrado com cortiça para impedir as infiltrações de humidade na parede, tudo neste convento denota os conhecimentos avançados dos frades franciscanos para a sua época.


Depois de visitarmos as atrações da Serra de Sintra descemos para a magnífica vila, toda ela mágica e cheia de esplendor – um reino romântico onde palácios majestosos, propriedades régias e mansões fascinantes emergem no meio de montes e florestas luxuriantes.



O centro histórico de Sintra é um museu a céu aberto, repleto de tesouros magníficos, como os jardins do luxuoso Tivoli Palácio de Seteais, o Parque de Monserrate, o Museu do Brinquedo e diversos museus.

Percorremos a pé as suas ruelas envoltas em magia e história, contudo também há a opção de nos deslocarmos de carruagem puxada por cavalos, que opera por toda a vila, pelo «glorioso paraíso» nas palavras de Lord Byron.




No centro da vila saboreamos as famosas queijadas e os travesseiros de Sintra, na pastelaria Piriquita.

Em seguida dirigimo-nos para o Palácio Nacional este é conhecido por ser o único palácio real do país, de origem medieval, que permanece intacto. A esplêndida combinação de estilos – Mourisco, Gótico e Manuelino – assim como as suas salas ricamente ornamentadas, os azulejos de tipo oriental, as pinturas delicadas, a mobília antiga e as belíssimas tapeçarias valem bem a visita a este palácio. Porém, as características mais notórias deste monumento são as duas altas chaminés cónicas – um verdadeiro ponto de referência nos ares brumosos de Sintra.



Outro palácio localizado na vila de Sintra é o Palácio de Seteais, nos dias que correm é um dos mais famosos e requintados hotéis de Portugal. Mas a sua história remonta ao século XVIII, quando foi mandado construir por Daniel Gildemeester, na altura cônsul da Holanda em Portugal.



Outro local surpreendente é o Palácio e Parque de Monserrate. O palácio é uma das melhores ilustrações da arquitetura do período romântico em Sintra. O edifício original foi construído no século XVIII e imitava um castelo medieval.






O arrendatário mandou erguer um palacete de estilo neo-gótico, que foi mais tarde habitado pelo escritor inglês William Beckford.





Adorei o seu interior majestoso e a sua arquitetura singular.





Percorremos os jardins do palácio que receberam espécies vindas de todo o Mundo e foram organizados por áreas geográficas, refletindo as diversas origens das plantas e compondo cenários ao longo de caminhos sinuosos, por entre ruínas, recantos, lagos e cascatas.





Por fim, visitamos a Quinta da Regaleira, um dos meus locais favoritos desta vila encantada e repleta de atrações.





Esta quinta foi mandado construir pelo milionário português António Augusto Carvalho no início do século XX e é considerado “um sonho arquitetónico tornado realidade”. Projetado pelo arquiteto visionário italiano Luigi Manini, este local, classificado como Património Mundial da UNESCO, distingue-se pela fusão de elementos góticos, manuelinos e neoclássicos.









Carvalho Monteiro tinha o desejo de construir um espaço grandioso, em que vivesse rodeado de todos os símbolos que espelhassem os seus interesses e ideologias. Conservador, monárquico e cristão gnóstico, Carvalho Monteiro quis ressuscitar o passado mais glorioso de Portugal, daí a predominância do estilo neomanuelino com a sua ligação aos descobrimentos. Esta evocação do passado passa também pela arte gótica e alguns elementos clássicos. A diversidade da quinta da Regaleira é enriquecida com simbolismo de temas esotéricos relacionados com a alquimia, Maçonaria, Templários e Rosa-cruz.







Percorremos o misticismo deste local e deparamo-nos com a sua magnífica capela, muitos jardins, elegantes lagos e grutas surpreendentes. Uma das suas caraterísticas mais intrigantes é o Poço Iniciático, diz-se iniciático porque se acredita que era usado em rituais de iniciação à maçonaria e a explicação do simbolismo dos mesmos nove patamares diz-se que poderá ser encontrada na obra Conceito Rosacruz do Cosmos.






Os caminhos percorridos são de tal forma singulares e misteriosos que ficaram gravados na minha mente e alimentaram o desejo de voltar a este local de forma a contemplar novamente todos os pormenores e descobrir outros encantos escondidos.

Considero Sintra um refúgio que espelha um cenário encantado e uma misticidade única.

Como escreveu o poeta Afonso Lopes Vieira "Em toda a terra portuguesa, em toda a terra da Europa, Sintra surge como um dos mais belos e raros lugares que a invenção prodigiosa da natureza logrou criar".