Nas margens do Rio Corgo, um dos afluentes do Douro, a cidade de Vila Real ergue-se a cerca de 450 metros de altitude, numa região que revela indícios de ter sido habitada desde o Paleolítico. Vestígios de povoamentos posteriores, como o Santuário Rupestre de Panóias, denunciam com segurança a presença dos romanos na região, mas os tempos que se seguiram, durante as invasões bárbaras e sobretudo muçulmanas, impuseram um despovoamento gradual que só terminou com a aproximação do séc. XII, com a outorga em 1096 do foral de Constantim de Panóias, pelo Conde D. Henrique.
Em 1289, por foral de D. Dinis (o primeiro dado por este monarca a Vila Real) é fundada a Vila Real de Panóias, que viria a transformar-se na cidade de hoje.
Nos sécs. XVII e XVIII Vila Real consolida o epíteto de Corte de Trás-os-Montes, que havia ganho com a presença dos nobres que aqui se fixaram por influência da Casa dos Marqueses de Vila Real, presença ainda hoje visível nas inúmeras pedras-de-armas que atestam os títulos de nobreza dos seus proprietários.
Como povoação mais importante em Trás-os-Montes e Alto Douro, Vila Real adquiriu o estatuto de capital de província e, já neste século, na década de 20, viu reconhecido o seu peso económico, demográfico e administrativo com dois atos de grande relevo: a criação da Diocese em 1922 e a elevação a cidade em 1925.
Dois tipos de paisagem dominam este distrito: a zona mais montanhosa das Serras do Marão e do Alvão, separadas pela terra verdejante e fértil do Vale da Campeã, e, para o Sul, com a proximidade do Douro, os vinhedos em socalco. Por toda a parte existem linhas de água que irrigam a área do concelho, com destaque para o Rio Corgo, que atravessa a cidade num pequeno mas profundo vale, originando uma paisagem de excecional beleza.
Como referi anteriormente este concelho está recheado de atrações arqueológicas, como por exemplo: a Necrópole de S. Miguel da Pena, um conjunto de 4 sepulturas antropomórficas, embora 2 delas sejam mais evidentes, escavadas num afloramento rochoso, que revela vestígios de apoio de estruturas. E o Santuário de Panóias, um santuário rupestre mais antigo da Península Ibérica, e um exemplar único no Mundo, pelo facto de as suas pedras contarem, em inscrições, quem o construiu, em honra de que divindades, e que rituais ali se praticavam.
Pelo centro da cidade cruzamo-nos com várias casas senhoriais entre elas a Casa de Diogo Cão, casa cuja construção se pensa datar do séc. XV e onde, segundo diz a tradição, terá nascido Diogo Cão, o Navegador enviado por D. João II em viagens de descobrimento para a ocidental Africana, e que chegou à foz do rio Zaire na segunda metade do séc. XV.
São vários os pontos de interesse que esta cidade oferece, dona de um rico património, e de grande fervor religioso, como se pode observar na Igreja de S. Pedro, um dos melhores exemplos religiosos do estilo barroco em Vila Real.
Outra igreja presente na cidade é a Igreja de São Paulo/ Capela Nova que usufrui duma posição privilegiada no centro histórico, ostentando de forma singela a sua imponência, entre ruas com um cariz tradicional. Mandada edificar pela Irmandade de São Paulo, em 1639, a sua traça é atribuída a Nicolau Nasoni, e revela marcas típicas do Barroco.
E visitamos também a Igreja do Convento de S. Domingos, atual Sé, foi mandada erguer, juntamente com o convento com o mesmo nome, no séc. XV, a mando dos religiosos de São Domingos, de Guimarães. A nível arquitetónico recebe influências de dois estilos: o Românico, que é o mais visível, bem patente na robustez e austeridade das suas linhas, e o Gótico.
Fora do centro da cidade visitamos o Palácio ou Solar de Mateus, do séc. XVIII, uma das obras mais significativas da arquitetura civil portuguesa do período barroco.
O desenho da Casa é atribuído ao famoso arquiteto Nicolau Nasoni. No seu interior encontramos a secção museológica, que, rodeada de belos jardins, guarda peças valiosas de diferentes épocas, de onde se destacam mobiliário, peças de decoração, paramentos, documentos, a biblioteca, e uma notável edição de “Os Lusíadas”, do século XIX. O conjunto arquitetónico é ainda composto pela capela em honra de Nossa Senhora dos Prazeres e pelo espelho de água defronte da fachada.
Realizamos uma visita guiada ao interior do palácio, onde não era permitido fotografar o seu interior, os conhecimentos que adquiri nessa visita alimentaram a vontade e a ansia de adquirir cada vez mais conhecimentos sobre a história de Portugal.
A cultura, história e patrimónios locais não são esquecidos nos interessantes espólios museológicos de Vila Real, como nos Museus de Arqueologia e Numismática de Vila Real, no de Geologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro ou no Etnográfico de Vila Real.
Depois de visitarmos as atrações da cidade de Vila Real dirigimo-nos para algumas freguesias de forma a termos contacto com o meio rural. Assim, visitamos Lamas de Ólo que está integrada no Parque Natural do Alvão apresentando muito vincadamente as características da forma de vida das gentes que habitam nas encostas da serra.
Aqui também visitamos a aldeia de Dornelas, onde ainda é possível encontrar casas tradicionais construídas em xisto, colmo e granito, muitas das quais recuperadas com a colaboração dos serviços do Parque Natural.
Esta aldeia é considerada um dos mais envelhecidos de Portugal.
Por fim, visitamos Vilarinho de Samardã, vila onde Camilo Castelo Branco passou dias felizes da sua vida – de 1839 a 1841 – nos tempos em que sua irmã D. Carolina ali casou com o médico Dr. Francisco José de Azevedo.
Ao longo deste passeio por aldeias e vilas rurais cruzamo-nos com espigueiros, casas de xisto, animais, gentes e tradições.
No que se refere à gastronomia local, a gastronomia vilarealense é rica em doces conventuais, como os "Toucinho do Céu", os "Pitos de Santa Luzia", as "Ganchas de S. Brás". Como pratos típicos, servem-se em Vila Real, tripas aos molhos, cabrito assado com arroz de forno, vitela assada (Maronesa), joelho da porca e diversos pratos de bacalhau, entre outros. Tradicionais são também as bolas de carne, os covilhetes, as cristas de galo, as tigelinhas de laranja e os cavacórios.
Considero que a natureza tem um importante papel nesta cidade de paisagens ímpares, que dispõe de jardins e parques, como o Parque Natural do Alvão, mas a cultura, história e patrimónios locais também contribuem para o enriquecimento da visita ao concelho de Vila Real.
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