Esta é uma lenda popular que se crê ter surgido para explicar o estranho ritual que durou séculos: todos os anos a população de Castelo de Mendo enviava à Festa da Senhora do Sacaparte um grupo de rapazes nus da cintura para cima. Durou até ao dia em que um Bispo muito severo, proibiu tais praticas. Mas se hoje, desse ritual, restam apenas memórias, ainda se conta a lenda do monstro e do ermitão…
Há muitos anos, tantos que já se perdeu a memória, o povo de Castelo de Mendo vivia aterrorizado, porque sempre que chegava a Primavera, desaparecia alguém sem deixar rasto. O primeiro a desaparecer foi o rapaz mais bonito da terra. Muito se disse, muito se pensou e especulou sobre o assunto, mas o certo é que do rapaz nem sinal. Durante todo o ano se tentou, em vão, saber do paradeiro do rapaz e para pasmo geral na Primavera seguinte o caso repetiu-se e voltou a repetir-se nas Primaveras que se lhe seguiram. Sempre que chegava a Primavera, desaparecia um rapaz. De modo que em vez de se alegrarem com a chegada do bom tempo, os habitantes da aldeia viviam em pânico. Quem seria o próximo? E apesar de todas as precauções, nada parecia conseguir evitar aqueles estranhos desaparecimentos. Já em desespero, resolveram, consultar um ermitão que vivia a muitas léguas dali. Talvez ele com toda a sua sabedoria soubesse o que fazer. Demoraram alguns dias até o encontrarem e quando finalmente o avistaram, parecia que o homem sabia da sua vinda porque lhes dirigiu estas palavras:
Nestas terras por azar
Anda um monstro traiçoeiro
Ai de quem ele avistar
Que o engole logo inteiro
Para este mal acabar
Oiçam-me bem esta rima
Dezoito moços hão-de andar
Nus da cintura para cima
Dado o recado os três homens agradeceram e voltaram para a aldeia. Uma vez lá chegados o povo recebeu com alegria as boas noticias e alguém respondeu falando mais alto que os demais:
Mandar moços seminus
À Senhora do Sacaparte
Se essa é a solução
Pois lá irão!
E foram. Nesse ano e nos que se seguiram durante séculos e séculos. Do monstro nunca mais se ouviu falar mas também nunca ninguém duvidou do ermitão. E a tradição ainda hoje se cumpriria não fosse a ordem de um bispo que não achou graça a esta pratica e a proibiu!
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