Toledo é uma cidade de Espanha, da comunidade autónoma de Castilla-La Mancha. Esta foi a capital da Hispânia visigótica, desde o reinado de Leovigildo, até a conquista moura da península Ibérica no século VIII.
Esta cidade foi classificada pela Unesco, em 1987, como Património Mundial da Humanidade.
É também conhecida como a “Cidade das Três Culturas” ou a “Cidade Imperial”.
Entre as múltiplas facetas de Toledo, aquela que mais impressiona, é a fusão cultural e religiosa- cristã, judaica e muçulmana, que se entende nas suas esplêndidas mesquitas, sinagogas e igrejas que traduzem vários credos.
Cervantes descreveu Toledo como a "glória da Espanha". A parte antiga da cidade está situada no topo de uma montanha, cercada em três lados por uma curva no rio Tejo, e tem muitos sítios históricos, incluindo o Alcázar, a catedral (a igreja primaz da Espanha), e o Zocodover a sua praça central.
El Greco é um personagem especial de Toledo. É impossível não se deliciar com a obra deste grande pintor, que chegou à cidade em 1577 e fez ali a sua morada criativa. O nome de batismo do artista era Domenikos Theotokopoulos. Nascido na ilha de Creta, foi como El Greco que ele passou para a história mundial das artes.
É na cidade que estão as obras mais significativas do pintor, que morreu em 1614 em Espanha.
Os seus quadros mostram a identificação perfeita entre a cidade e o homem, entre a paisagem e a visão de uma figura genial. E retratam também o ambiente religioso e o místico da época.
Percorrer as ruas e ruelas muitas vezes labirínticas desta cidade é um momento imperdível, totalmente recompensado pelas riquezas culturais e arquitetónicas.
A cidade também é conhecida pelas suas portas, bem preservadas e imponentes. A primeira que visitamos foi a Porta Bisagra, de origem árabe, mas foi reconstruída pelo imperador Carlos V. Tem a forma de um pequeno castelo, com um arco de entrada protegida por duas torres, um desfile e um segundo corpo dentro fechando a entrada de dentro. Este segundo corpo, menos visível, mantém elementos muçulmanos originais, o resto é em estilo renascentista.
A Porta Del Cambrón é uma das mais significativas da cidade, é uma das entradas para a cidade velha de Toledo. É renascentista do século XVI. Em frente a esta porta podemos apreciar uma vista deslumbrante sobre o rio Tejo e "o outro lado de Toledo".
Por fim, a Porta del Sol, a sua origem foi uma torre albarrana do século X que defendia o acesso à cidade. No século XIV, devido às sucessivas guerras, foi necessária a sua reconstrução. Imita as portas granadinas da época e a sua beleza à noite é impressionante. Chegar à cidade por esta porta faz voltar a épocas medievais, onde as portas de acesso tinham um significado simbólico e social muito forte.
Depois de passearmos pelas portas da cidade, visitamos um dos monumentos mais importantes da cidade o Alcázar. A história das construções no lugar onde se ergue o Alcázar começou na época romana, com a existência de um palácio do século III. Este edifício foi restaurado durante os reinados de Afonso VI e Afonso X de Castela e modificado, em 1535, por ordem de Carlos I de Espanha (Carlos V do Sacro Império Romano-Germânico), o qual utilizou o Alcázar, em múltiplas ocasiões, como residência oficial dos Reis de Espanha.
Destruído, recuperado, incendiado, novamente restaurado, o Alcázar resistiu a séculos de batalhas. A última delas, a Guerra Civil Espanhola, transformou-o num monumento ao nacionalismo do generalíssimo Franco.
Outro monumento emblemático da cidade é a sua catedral, esta é notável por sua incorporação de luz, e nada é mais notável que as imagens por trás do altar, bastante altas, com figuras fantásticas em estuque, pinturas, peças em bronze, e múltiplas tonalidades de mármore, uma obra-prima medieval. Esta é uma das três catedrais góticas espanholas do século XIII, sede da Arquidiocese de Toledo, sendo considerada a obra magna desse estilo no país. Foi construída de 1226 a 1493 e foi projetada a partir da Catedral de Bourges.
Na própria catedral, é impossível não se emocionar com a sala do tesouro, onde está a custódia, uma das joias mais ricas do cristianismo. Ela é trabalhada em ouro, prata e pedras preciosas e percorre todos os anos as ruas estreitas de Toledo na procissão de Corpus Christi, no mês de junho.
A principal fachada da catedral tem três portas: a Puerta del Perdón, a Puerta del Juicio Final e a Puerta del Infierno.
Um outro monumento religioso significativo é o Monasterio de San Juan de los Reyes construído para comemorar a vitória dos reis católicos Ysabel e Fernando sobre os mouros, batalha de Toro (1476). Nos pilares que dão acesso ao altar principal, estão as tribunas reais, onde ainda se vêem as inscrições das iniciais do casal (F e Y). O interior do perímetro da igreja é atravessada por uma faixa com texto comemorativo, algo muito comum em toda a arte árabe, para que possamos considerá-lo como uma adaptação ao que pode ser considerado uma adaptação à arquitetura cristã. O claustro é considerado uma das joias da transição espanhola gótico ao renascimento.
Perdidos pelas ruas da cidade deparamo-nos com a Igreja Santa Leocadia, uma igreja que ainda mantém parte de sua fachada e abside. Podemos distinguir a sua torre mudéjar delgado construído no século XIII. O edifício está localizado no lugar onde, segundo a tradição, foi o local de nascimento do santo.
Outra igreja interessante é a de Santo Tomé, onde está um tesouro escondido em uma pequena capela: uma das obras mais conhecidas, importantes e impressionantes do pintor El Greco: El Entierro del Seíor de Orgaz.
Para além de igrejas cristãs, Toledo era famosa por sua tolerância religiosa e possuía grandes comunidades de judeus e muçulmanos, até que eles foram expulsos da Espanha em 1492; por isto a cidade tem importantes monumentos religiosos, como a sinagoga de Santa Maria la Blanca, a sinagoga de El Tránsito, e a mesquita de Cristo de la Luz.
A Sinagoga del Transito foi construída entre 1336-1357 e fechou as portas em 1494 quando os judeus foram expulsos da Espanha. Já foi hospital, igreja e hoje abriga o Museu Sefardi (Museu Sefardita).
Na Sinagoga de Santa María la Blanca, o seu interior é branco e restaurado, as cinco naves são divididas por arcos em ferradura. Em 1405 a Sinagoga tornou-se igreja e recebeu o nome que tem hoje.
E a Mezquita del Cristo de la luz, tão real quanto as lendas que adornam a história de Toledo é que esta antiga mesquita está situada numa estrada romana. A mesquita de Cristo de la Luz é certamente o edifício mais importante da corrente árabe de Toledo. Foi construído em 999, a estrutura, sem dúvida, islâmica, tem uma planta de cruz grega inscrita num quadrado com nove arcos de três navios, não há nenhuma referência árabe deste estilo em toda a Espanha.
Depois de visitarmos o bairro judeu e as suas mesquitas demos uma caminhada ao longo do Tejo onde nos deparamos com a ponte de Alcântara, de origem romana reformada por árabes e cristãos e com uma torre mourisca.
Perto da ponte situa-se o Castelo San Servando. Este castelo é uma fortaleza que remonta ao século XIV, o castelo foi construído sobre um castelo ex-muçulmano.
Relativamente às artes culinárias, destacam-se na cidade as chamadas carcamusas, que consistem em carne de porco estufada com tomate.
Esta cidade é sem dúvida uma das minhas cidades espanholas de eleição, em muitas outras cidades, existem ruínas, restos de muralhas, portas medievais, mas a preservação com que se encontram os monumentos desta cidade é surpreendente. Esta cidade transporta-nos à mágica da idade média. Conta uma lenda que à noite, nas ruas de Toledo é possível ouvir as vozes do povo que nela viveu há muitos séculos atrás e que a magia de uma noite escura transporta-nos a esses tempos idos dos cavaleiros, reis e princesas. Embora não tenha visto cavaleiros nem princesas, o percurso que realizamos pela cidade foi uma autêntica viagem no tempo, uma verdadeira lição de história.
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